quarta-feira, setembro 13, 2006

Quando conheci Flemming O'Brian

Conheci Flemming O'Brian assim que cheguei em Istambul. Filho de pai espanhol e mãe italiana, quando o vi pela primeira vez estava conversando em grego com uma fluência que podia jurar que tinha vindo da exuberante (porém pequena) floresta tropical de Esparta.

Por acaso, viajamos juntos na transiberiana até quase Vladvostok, quando tivemos um pequeno problema na viagem e acabamos tendo que ser expulsos do trem. Mas até então a viagem foi extremamente agradável. Posso dizer categoricamente que de tudo isso que se publica na imprensa a respeito de Flemming, uma parte é verdade e outra não. Não vamos dizer que essa outra parte é mentira, longe disso. Não queremos nos comprometer. Apenas nao é verdade.

O'Brian tinha a curiosa mania de coçar a barba sem pedir licença. O fato de não possuir barba alguma talvez o tenha feito pensar que não havia nada de mais; o que era extremamente estranho, visto que em todas as outras situações era uma pessoa extremamente bem-educada e muitíssimo refinada. Certa vez, encontramo-nos para jantar. Eu pedi o meu bife de sempre, ele pediu salmão. Alguns segundos depois de feito o pedido, ele me disse que a roupa que estava usando não era a certa para se comer peixe. Pediu que eu esperasse enquanto colocava seu traje de frutos do mar. Disse a ele que camisetas regata de licra e cuecas samba-cançao com a estampa do Demônio-da-Tazmania podiam sim, muito bem, ser vestimenta apropriada. Principalmente depois de todo o trabalho que tivemos para que o deixassem entrar assim no restaurante. Ele não comprou a idéia e disse que tinha vindo daquele jeito porque estava com vontade de comer cordeiro mas havia mudado de idéia. Saiu com pressa. Em exatos 18 minutos estava de volta, desta vez trajando uma calça de sarja, blazer azul, sem camisa, mas com gravata. Que cara estranho.

Flemming, como ele gostava de ser chamado depois das seis e meia da tarde, teve um tórrido caso de amor com Lady Lamont, uma viúva francesa que estava conosco no trem. Muitos acharam que fosse uma tentativa (dele) de golpe-do-baú. Eu não. Como ele mesmo me confidenciou, é preciso amar muito uma pessoa para, mesmo não a suportando e querendo vê-la longe, se envolver com ela. O fato de ela ser uma das maiores fortunas deste lado do Atlântico, obviamente, passou despercebido por Flemming, que sempre foi, como eu, uma pessoa muito ingênua.

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