quarta-feira, setembro 06, 2006

A Incrível História das Castanhas-de-Caju Sem Fio

Acordei com algum mentalmente débil tocando a campainha de casa. Maldisse-o e a todos os seus antepassados. Acordei sobrassaltado imaginando que notícia trágica não poderia esperar até os primeiros raios de sol do dia seguinte. No caminho, chutei o batente da porta. Blasfemei. E não foi pouco. Manquitolando, chego até a porta e pelo olho-mágico vejo meu amigo Eurico.

Abro a porta fazendo o pior rosto que consigo, para que ele perceba que acordar alguém no meio da noite não é a maneira mais razoável de conseguir uma recepção calorosa de ninguém, exceção feita, talvez, aos guardas-noturnos, aos insones e aos bibliotecários, categorias às quais venho a não pertencer.

Perguntei o que ele queria e jurei para mim mesmo que se ele perguntasse se eu estava dormindo eu iria partir para o uso da força. Ele perguntou por onde andava Constâncio. Eurico e Constâncio eram grandes amigos, até que se tornaram inimigos biliares. Obviamente, por dinheiro e, acima disso, por um belo par de seios, eles se desentenderam e passaram a se odiar. Para mim esse ódio era tudo uma grande besteira e eu tinha certeza que cedo ou tarde, quando um cansasse de querer entubar o outro eles fariam as pazes.

Disse-lhe que, evidentemente, na minha cama é que Constâncio não estava, já que a única vez que dividimos uma cama foi naquele acampamento na faculdade em que ele, Eurico, dividiu a cama com a saudosa Maria Luíza. Perguntei-lhe por que cargas d'água ele queria falar com Constâncio a essa hora da madrugada e ele me disse que dessa vez ele (Constâncio) havia passado do limite e aplicado o velho golpe de se endividar até os cornos no poker e garantir que Eurico pagaria tudo em seu (dele) lugar.

Eurico estava furioso e senti que meu dever de amigo era tentar fazer com que ele voltasse à razão e a pesar com clareza e disse-lhe que Constâncio era um grandissíssimo de um cachorro safado e que se fosse comigo iria pegá-lo de porrada. Eurico concordou comigo e proferiu impropérios de toda ordem contra Constâncio. Eu, particularmente, sempre achei Constâncio um dos meus amigos mais engraçados, a começar por seu nome que sempre me fez rir (quando pronunciado em voz alta), mas devo confessar que quando Eurico me falou do tamanho da naba que Constâncio havia deixado, tive que dar razão para este ex-professor de educação física para alunos do ensino fundamental.

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